quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pré-Prólogo






Em jeito de prólogo do Portugal de Lés a Lés, três quartos do grupo destacado para rumar a sul já no próximo dia 6 de Junho decidiu reunir-se para uma tarde de scooterismo de estrada, depois de semanas de scooterismo de garagem e solidão com ferramentas, para uns, e de scooterismo de internet para comprar as últimas peças, para outros.








Encontro marcado para Torres Vedras, numa tarde amena, com vários e aleatórios pretextos na agenda: enquanto o Paulo tinha terminado de montar a Vespa PX na véspera e precisava desesperadamente de a testar, por impossibilidade de o fazer até dia 6, o Miguel estava aliviado por finalmente sair à rua vendo a Helix fazer o mesmo movimento desimpedindo a sua garagem. Eu estava a precisar de garantir que ainda sabia andar de scooter e desfrutar, vaidoso, a minha renovada Helix. Ao Rui, o elemento da equipa geograficamente desfavorecido pelo programa, contámos a versão oficial: íamos dar uma volta para testar os rádios. 














Ter três quartos da frota pronta a quinze dias do Lés a Lés é inédito e concordámos que merecia uma comemoração condigna. Decidimos reproduzir o percurso da última Regularidade do VCL, mas sem os troços de terra, e fizemo-lo quase na íntegra. Rolámos tranquilos, não caíram parafusos, os rádios funcionaram perfeitamente, e nem foi preciso esvaziar jerrycans - penso que já referi atrás que o Rui não veio. 


A Handa Nagazoza continua com uma instalação eléctrica para fazer. Deve ser das Lambrettas. No ano passado, por esta altura, a do Duarte era um caixote de peças. E foi a estrela que se viu. Nunca menosprezo uma Lambretta.   

          
















segunda-feira, 26 de maio de 2014

Starship





A Helix está de regresso a casa. Vários meses depois. 

A ideia não era restaurar a scooter, no sentido próprio do termo. A Helix tem sido extremamente fiável na minha mão, e tem sobrevoado serenamente estes quase vinte anos de vida sem dificuldades, apenas com revisões periódicas e substituição de peças de desgaste. Pela primeira vez, a ideia era renová-la também por fora. 

Hoje foi finalmente o dia de ver o efeito do pacote de alterações completo. Fiz um pouco mais de cem quilómetros nela e várias vezes tive a estranha sensação de que tinha uma scooter diferente nas mãos. E não foi só o efeito visual do azul. Valeu mesmo a pena.  


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Toy Story





A imagem permite múltiplas interpretações. A mais óbvia é a de que já gastei umas valentes massas com a minha Honda CN nos últimos meses. O odómetro desnudado serve como representação de uma antiga máquina registadora, não necessariamente em euros. O gigantesco zero no velocímetro significa que a CN ainda nem começou a andar. E os dois traços vazios na régua de combustível lembram-me que não posso ainda fechar a carteira. 

Tudo começou com pouco mais de meia dúzia de plásticos em kit, que me levaram a uma viagem por uma pintura em três actos, a um escape - a cuja aquisição resisti durante seis anos - , a um painel de instrumentos novo, passando por um jogo de pneus a estrear, afinações de válvulas ao milímetro, ou a pormenores como o revestimento de porta bagagens novo. Com paciência, fui recebendo as peças do Oriente, da Europa e, com a ajuda preciosa do Miguel, o puzzle foi ganhando forma outra vez. A garagem dele volta agora a poder receber o carro, depois de se libertar das carenagens azuis de um comboio de duas rodas.  

Ao longo dos últimos meses temos estado a seguir a odisseia da renovada Lambretta Li que o Rui Tavares preparou especificamente para o Lés a Lés deste ano. Piloto de fábrica, estudou e perguntou a quem sabia, e entregou a Lambretta a um preparador renomado, para reforçar as entranhas do seu motor com mais de cinquenta anos. Para que não haja dúvidas sobre as suas intenções, optou por lacar o seu motor de laranja, em representação do inferno que espera as pequenas e esforçadas peças de metal ao longo dos dois mil quilómetros da viagem.

Como o Rui, também o Paulo Simões Coelho se esforça por levar a PX com quase trinta anos pelo caminho mais difícil. A um par de semanas do arranque sabe que a Vespa não está perfeita, mas tem fé que aguentará. Para incrementar o índice de dificuldade decidiu partir um perno da tampa da embraiagem. Em vez de se irritar, viu nisso mais um motivo para enviar uma encomenda para o Fundão. Não à procura de cerejas, mas de um torneiro da velha guarda, com mãos de midas. Na véspera do arranque uma bobine de reserva aparecerá no saco via Manel, não vá a PX Luísa ficar com falta de energia na viagem. 

A ligar estas narrativas soltas estão conversas, cumplicidades, gargalhadas e emails ao longo de meses, nos tempos livres de cada um dos quatro. Nenhum de nós precisa das scooters para trabalhar. São histórias. Histórias de brinquedos.    


sábado, 10 de maio de 2014

Vimeiro







Quase um mês. Por várias razões, o acesso à garagem com vista a destapar a Bianca e expô-la à fotossíntese não foi possível durante quatro semanas. Não sei se é um máximo histórico negativo meu, mas se não é ficou a saber-me como se fosse. Sei que fiquei demasiado tempo parado. Noto isso quando me sinto perro nos primeiros minutos, a manobrar a scooter a sair de casa. O reajuste é rápido, os movimentos depressa se tornam naturais outra vez, mas o espaço de tempo desconfortável e de menor fluidez existe. E é um sinal. Também de trabalho a mais e lazer a menos.


O dia esteve fresco, ideal para me esconder nos tesouros desertos do Vimeiro, a pouco mais de meia hora de Lisboa. Aqui, e nesta altura do ano, a tranquilidade da natureza conjuga-se com a ausência quase total de humanos. Razão suficiente para explorar e observar o pequeno mas belo recanto perto do mar, um verdadeiro parque natural não oficial. A meias com a Bianca.