quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma Imagem, Duas Histórias





Fiz esta fotografia em Outubro de 2009, em Atenas. No fim-de-semana da última eleição legislativa, que haveria de conduzir ao poder Papandreou, entretanto demissionário.
 
Sem sequer suspeitar, testemunhei o dia zero do até aí impensável ataque criminoso às dívidas soberanas na Europa.
 
Pouco tempo depois a Grécia entraria na espiral ascendente dos juros da dívida pública, fenómeno que rapidamente se alastrou a países periféricos do Euro, Irlanda e Portugal, também já intervencionados pela troika, e que promete fazer mais vítimas entre as nações sob a mira dos mercados.

Ao voltar por acaso a esta imagem, de uma Vespa gasta numa rua estreita de Atenas, detive-me na observação dos detalhes, num exercício em que gosto de ligar a fotografia a aspectos e realidades que nela aparentemente não estão. Pelo menos directamente. Revi, então, vários sinais da história.

A de uma Europa velha, mas cheia de charme, representada pela Vespa.

A de uma sabedoria milenar, simbolizada pela língua grega na placa toponímica e pelo pedaço de Parténon na loja, também esta caduca.

A de um modelo económico já sem soluções, ultrapassado, como o autocolante no vidro da datada Kodak.

A dos europeus de rosto fechado, como o cadeado na porta.

Resta saber se a charmosa e velha Vespa se submeterá a restauro para resistir.  E se, ainda assim, resistirá.



1 comentário:

Leonardo Dueñas disse...

O velho continente já superou simplesmente tudo, o único preço que não se deve pagar, pelo menos conscientemente, é o do ânimo de viver e da esperança. Seja lá como for o amanhã.

Abraço,
Leo